sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Intervalo - Ritchie

Ritchie, em foto sem crédito

Batizado Richard David Court, Ritchie nasceu na Inglaterra. Por ser filho de militar morou em diversos países, até conhecer alguns brasileiros, dentre eles os integrantes dos Mutantes, que o convenceram a vir para cá, onde se fixou. Depois de dar aulas de inglês para nomes como Paulo MouraEgberto Gismont e Gal Costa, participou de várias bandas de rock progressivo. Na A Barca do Sol era flautista e vocalista. Na Vímana, ao lado de Lulu Santos e Lobão, chegou a gravar um compacto pela Som Livre, que foi engavetado porque a gravadora considerou que não havia público para rock no Brasil. Em 1983, lança o LP "Vôo de Coração", que vende mais de 1 milhão de cópias, tudo por culpa, quero dizer, por conta do megasucesso "Menina veneno", a música mais executada em todo o país naquele ano, à exaustão. Ritchie nunca deixou o mundo da música, mas o sucesso estrondoso do primeiro disco jamais chegou perto de se repetir. Em 2009 lançou pelo seu próprio selo o trabalho "Ritchie - Outra Vez", o primeiro Blu-ray musical a ser produzido, gravado, masterizado e fabricado no Brasil.


“Menina veneno”, de Ritchie e Bernardo Vilhena

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O espaço da vanguarda

Um velho porão localizado na Rua Teodoro Sampaio, no bairro de Pinheiros, agitou a cena cultural da cidade de São Paulo na primeira metade da década de 1980. Espaço de vanguarda e efervescência cultural, o teatro Lira Paulistana era ao mesmo tempo palco para música, teatro, cinema, artes plásticas, literatura e jornalismo. Por ali passaram nomes como Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Tetê Espíndola, Suzana Salles, Cida Moreira, Laura Finocchiaro, os grupos Rumo (com Ná Ozzetti e Paulo Tatit), Língua de Trapo, Premeditando o Breque, Ultraje a Rigor, entre outros artistas que protagonizaram um dos mais estimulantes movimentos culturais experimentados pela capital paulista, a chamada "vanguarda paulistana".


O genial Itamar Assumpção canta "Prezadíssimos ouvintes", dele e de Domingos Pellegrini

Infelizmente, não cheguei a freqüentar o Lira Paulistana. Mas o professor de literatura do cursinho pré-vestibular do instituto politécnico, onde eu estudava, chamou minha atenção para os grupos Premeditando o Breque e Língua de Trapo. Ele assistiu a um show deles no Centro Cultural Vergueiro e tinha adorado o que considerava ser uma "nova proposta" dentro da música brasileira. Fui conferir e por um bom tempo acompanhei a trajetória desses grupos. Tanto o Premeditando o Breque, posteriormente batizado Premê, quanto o Língua de Trapo, misturavam música e humor, tudo com muita irreverência. O Premê era musicalmente bem mais refinado, já o Língua adotava uma linha mais escrachada. Na verdade, ambos são legítimos herdeiros do grande Adoniran Barbosa e do lendário grupo Joelho de Porco.


Como não encontrei nenhum vídeo bom do Premê, segue este recente em que os ótimos Mário Manga e Wandy Doratiotto cantam "Brigando na lua", samba-de-breque que conquistou o segundo lugar no 1º Festival Universitário de Música Popular Brasileira, realizado em 1979.

Mesmo não tendo ido ao Lira, curti muito a maioria daqueles artistas em disco. Aliás, o Lira Paulistana era também um selo, a partir do qual muitos dos artistas que se apresentavam no teatro tiveram a oportunidade de estrear em disco de forma independente. Lançar um LP por uma gravadora comercial e distribuir o disco no mercado estava fora de cogitação para aquele povo, que fazia um trabalho tão original quanto distante dos interesses da indústria fonográfica. Mais tarde tive um contato pessoal com a Ná Ozzetti em uma festa na casa de um amigo em comum. O saudoso Plínio Chaves tinha sido sócio do Lira. Foi também um dos primeiros a incentivar a carreira solo desta que é uma das melhores cantoras do país, tanto pelo timbre da voz quanto pela técnica apurada. Não consegui trocar muitas palavras com ela. Além da Ná ser, à época, muito tímida, naquela noite comi um bolo cuja receita levava um ingrediente que eu nunca tinha experimentado antes. O troço bateu tão forte que passei a maior parte da festa dormindo no chão da sala.


Neste vídeo, vemos uma interessante fusão de um trecho de uma apresentação do Grupo Rumo em 1984 com outra feita 20 anos mais tarde. A música é a "Falta alguma coisa", de Zécarlos Ribeiro, com destaque para a voz impecável de Ná Ozzetti. 

Nota: o primeiro bloco deste texto foi extraído do Catraca Livre, da Folha online

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Intervalo - É Carnaval

Ala das Baianas da Império Serrano. Foto sem crédito.

Eis que hoje começa pra valer o Carnaval 2010. Já vai ter desfile em Sampa à noite, tomara que São Pedro pegue leve com a cidade. E amanhã, no Rio, a Império Serrano, escola do meu amigo e parceiro Wilson das Neves, é a segunda a entrar na avenida para tentar voltar ao Grupo Especial. Torço por ele. Embalado pelos belos sambas do grande Das Neves, desejo a você um ótimo Carnaval. “Ô sorte!”


Wilson das Neves canta "Grande Hotel", samba que ele fez em parceria com Chico Buarque

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Intervalo - A lua e ela

Foto de Lina Faria

Melodia sentimental
Heitor Villa-Lobos e Dora Vasconcelos

Acorda, vem ver a lua
Que dorme na noite escura
Que surge tão bela e branca
Derramando doçura
Clara chama silente
Ardendo ao meu sonhar

As asas da noite que surgem
Que correm no espaço profundo
Oh, doce amada, desperta
Vem dar seu calor ao luar

Quisera saber-te minha
Na hora serena e calma
A sombra confia ao vento
O limite da espera
Quando dentro da noite
Reclama o teu amor

Acorda, vem olhar a lua
Que brilha na noite escura
Querida, és linda e meiga
Sentir meu amor e sonhar


"A voz é minha, mora em mim, mas... é uma expressão de Deus... é uma fagulhinha, uma bobagem". Trecho do documentário "Maria Bethânia - Música é perfume", de 2005, dirigido por Georges Gachot.