sexta-feira, 28 de maio de 2010

Eu, a Fernanda, o Tom Zé e a Julia Roberts

Antônio José Santana Martins, o baiano Tom Zé, em foto sem crédito, óxente!

De hoje a domingo tem Tom Zé e seu show "Pirulito da Ciência" aqui em Curitiba. Na terca-feira passada, a bilheteria do teatro abriu ao meio-dia já com uma fila enorme. Cheguei 15 minutos depois e fui lá pra trás, depois da curva da esquina, onde esperei, perei, perei e a bicha ("fila" em português lusitano) mal se movia. Explicado depois: ia chegando gente, amigo do amigo do amigo que já tava lá e ficava ali conversando, como quem não quer nada. E assim a fila crescia mais pros lados que pra trás, como devia crescer. Ninguém criou caso, todo mundo com o pensamento prejudicado pela fome - eu ao menos era um que estava - a coisa não podia dar certo. Antes de eu conseguir chegar na boca do caixa já não tinha mais ingresso nem pra sexta, nem pra sábado, nem pra domingo. Dancei, dançamos eu e a Fernanda, que trabalha comigo e comigo também viveu essa angústia por exata hora e meia. Fomos correndo engolir o almoço com aquela cara de tacho, certos de termos perdido não só hora e meia da nossa vida, como também um baita de um show.

Tom Zé é genial, e isso não é novidade pra ninguém que já ouviu, viu, ou mesmo leu algo dele ou sobre ele. Inclusive aquela história mais do que conhecida e abençoada da "descoberta" do artista pelo ex-lider do Talking Heads, o músico David Byrne, no final da década de 1980. E encerro por aqui esse papo, que já tinha me conformado, mas quanto mais falo disso mais fico puto com os amigos do amigo do amigo que foram chegando naquela fila que não havia meio de andar. Agora é esquecer e esperar por uma outra oportunidade pra ver o cara de perto, sabe-se lá quando e onde. Por outro lado, é bom saber que o Tom Zé conquistou o merecido direito de mobilizar tanta gente em torno do seu trabalho. Tinha uma galera bem jovem lá pra comprar ingresso, sinal de que nem tudo está perdido. A não ser aquela hora e meia que passamos, eu e a Fernanda, ouvindo uma mulher que também estava na fila narrar um best seller que ela tinha lido e adorado, e que ia virar filme com a Julia Roberts no papel principal, etc. e etc. Tom Zé que é bom, nada.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O jazz, a cantora e eu - parte 3

O álbum duplo "Singers", da coleção Atlantic Jazz, do lendário selo norteamericano Atlantic Records. Uma coletânea de vozes fantásticas em 25 músicas idem. Tempos depois, encontrei a série completa em um sebo no centro velho de São Paulo. Trata-se de um verdadeiro tesouro musical.

Claro que saí dali encantado. Além do belíssimo espetáculo, da mágica recriação de uma época, dos contagiantes números de dança, das músicas geniais, do show de iluminação, do cenário impecável, dos drinques servidos com absoluta honestidade, eu havia dançado com a linda cantora. No caminho de volta para casa, combinei com o Alexandre que estaria no dia seguinte, domingo, na casa dele. Iria gravar uma fita cassete para a Izy Gordon. Queria gravar exatamente as músicas daquele disco que ele tinha e que ouvimos no percurso até o teatro. Depois, eu voltaria para ver o show, mas desta vez sozinho. Ele se divertiu com a história, e na verdade ambos estávamos meio embriagados, meio bestas. Qualquer coisa que disséssemos a respeito do “Emoções Baratas” – e foi disso que falamos por todo o caminho – seria muito bem vinda.


Jimmy Witherspoon, impecável, canta "Tain’t nobody’s bizness if I do"

Para a minha alegria, o Alexandre resolveu me dar a fita que estava rodando no toca-fitas do carro. Como ele tinha o álbum, ele gravaria outra depois. Assim, ganhei um tempo para chegar mais cedo na bilheteria do teatro no domingo, já que corria o risco de não ter ingresso, mesmo eu precisando de apenas um. Para a minha sorte, não só havia alguns ingressos avulsos ainda disponíveis, como encontrei um no mesmo balcão do bar, embora no banco mais à lateral, de visibilidade pior que o da noite do sábado. Já tendo tomado o meu lugar, fiquei apenas na expectativa da entrada da Izy no palco. Num dos bolsos da minha jaqueta, a fita cassete que eu pretendia entregar para ela naquela noite. Só não sabia ainda como faria isso.


Ruth Brown em "Mama He Treats Your Daughter Mean"


Eis que a Izy aparece no palco, de um jeito tão luminoso que vi nela uma mulher ainda mais bonita que tinha visto na noite anterior. O tecido macio do vestido que ela usava escancarava as curvas do seu corpo. Fiquei curtindo o show sozinho, apreciando cada detalhe que tinha me escapado na primeira noite. A performance dos dançarinos e dançarinas impressionava. Entre todos destacava-se um negro magro, elegante e vigoroso, de nome Sebastião. Terminada a temporada do “Emoções Baratas”, Sebastião adotaria o nome artístico de Sebastian e passaria a estrelar as campanhas publicitárias da rede de lojas C&A, coisa que fez por muitos anos.


Ella Fitzgerald e o clássico da bossa nova "Desafinado"

Chega, então, a hora da volta do intervalo. Para a minha surpresa, a Izy veio na minha direção e me tirou novamente para dançar, o que me deixou muitíssimo feliz. E lá fomos os dois para o palco, desta vez mais à vontade. Durante a dança, ela me explicou que cada um tinha que tirar alguém de um determinado setor do teatro. Disse que aquilo sempre a deixava um pouco constrangida, pois ela tinha receio de convidar alguém que se mostrasse depois uma roubada. Contou que na noite do sábado, como sempre fazia, logo que entrou no palco para o primeiro número foi olhando as opções que teria para escolher, e que assim que bateu os olhos em mim (de um jeito tão sutil que não percebi) decidiu-se imediatamente por me convidar. Por fim, revelou que tinha ficado muito feliz de me ver de novo ali, quase no mesmo lugar, pois tinha se sentido bem comigo. Eu, claro, adorei saber daquilo, e disse que tinha algo para entregar a ela depois do espetáculo. Ela pediu que eu a procurasse no camarim uns quinze minutos depois do fim do show. Despedimo-nos no palco com um rápido beijo. Ela sorriu linda, e pelo restante do show eu tive a sensação de que ela cantava para mim.
(continua)


Peggy Lee canta "Why don't you do right"

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ainda um intervalo - Quinteto Violado

O grupo Quinteto Violado, em foto sem crédito

Os dias têm sido muito corridos, e as noites nem sempre muito diferentes disso. Enquanto não consigo dar sequência na história "O jazz, a cantora e eu", o jeito é apelar para outro clipe. Desta vez, entra em cena o Quinteto Violado, grupo surgido no Recife no início dos anos 1970. Sua mistura de sons e sotaque nordestinos com timbres e arranjos eruditos inaugurou, à época, um novo caminho para a música brasileira. Hoje, saio do trabalho e vou direto para o teatro assistir, pela primeira vez, a um show deste grupo, cuja sonoridade sempre me encantou. O repertório será predominantemente composto por músicas do Luiz Gonzaga. Mesmo se tratando de clássicos pra lá de revisitados por um sem número de artistas, é certo que nada será como antes. Afinal, estamos falando do Quinteto Violado.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Intervalo - Zé Renato

O grande Zé Renato, em foto sem crédito

A elegância e a sofisticação de Zé Renato estarão em Curitiba neste fim de semana, no palco do Teatro da Caixa. No repertório do show, além de inéditas e de alguns sucessos de sua carreira de mais de 30 anos, vão estar as músicas do CD "É Tempo de Amar", em que o artista gravou clássicos da Jovem Guarda. Uma curiosidade desse álbum, é que o Zé não recebeu a tempo a autorização para regravar as músicas compostas pelo Roberto Carlos. Então, no disco só entraram sucessos da Jovem Guarda que não foram criados pelo Rei, o que é quase inconcebível. Pois essa lacuna ele resolve no show, mandando ver nas composições do lider do movimento que chacoalhou o país na segunda metade dos anos 1960.

O Zé Renato é um dos caras que eu mais gosto na música brasileira. Dono de um timbre de voz suave e muito gostoso de ouvir, ele sempre primou pela qualidade impecável em seus diversos projetos, seja nos discos solo, seja quando está integrando o grupo Boca Livre (do qual faz parte desde o início), ou nas vezes em que participa do trabalho de outros artistas. Trata-se de um músico de primeiríssima linha. Estou indo pra lá, meu ingresso é na fila do gargarejo! Não tenho dúvida de que vai ser um show muito bom.

Nota posterior: como eu esperava, o show foi ótimo, o Zé Renato está num estágio fantástico como músico, compositor e cantor. Retificando a informação que dei aqui, o Zé disse que  não gravou as músicas do Roberto não porque a autorização não teria chegado em tempo, mas sim porque o Roberto não autorizou mesmo. Coisas do rei...


Zé Renato canta "Namoradinha de um amigo meu", de Roberto Carlos