Foto de Jandoo (Flickr)
Ontem participei do ensaio para a apresentação no festival Samba do Compositor Paranaense. Noite chuvosa em Curitiba, o que fez o percurso que seria de 15 minutos entre o centro e o lugar marcado levar pelo menos o dobro de tempo que levaria. Mesmo com a chuva chatinha lá fomos nós, seis dos sete participantes da primeira edição do festival. O sétimo é da distante cidade de Paranavaí, por isso não compareceu e terá seu samba defendido pela banda formada para o evento.
O astral estava ótimo. Um povo muito à vontade, a fim de tocar, de fazer samba e de se divertir. Quatro percursionistas, um cavaquinho, um violão e um clarinetista. Cada um de duas ou três passadas pela música, para se familiarizar bem com o arranjo e combinar alguns detalhes. Em geral, gostei de todos os sambas que concorrem com o meu "Como disse o Cony" ao direito de fazer parte do CD oficial do festival. A seguir, dou uma palavrinha sobre cada um deles.
"Amor pagão", de Karla Díbia
Trata-se de um “quase-samba”, se é que se pode chamar assim essa bonita canção, que em alguns trechos lembra uma "quase-valsa", se é que se pode chamar assim essa bonita canção que, no fundo, é isso, uma bonita canção de amor. Vai dar uma quebrada no clima, o que considero muito positivo. A letra é romântica e a melodia muito inspirada, o que favorece a voz da Karla Díbia, de timbre muito agradável. Se tivéssemos prêmio para melhor cantor, eu apostaria nela para esta primeira edição.
"O sapateiro deu o nó", de Reinaldo Godinho
Entre todos, o Reinaldo Godinho é o concorrente com mais bagagem. É músico, produtor e arranjador, e já tem vários discos gravados, o primeiro deles foi lançado em 1978. No festival ele vai defender um samba no melhor estilo Moreira da Silva, com muita malandragem e malícia na letra, além de um suingue muito característico dos sambas-de-breque. Fora isso, o Reinaldo canta muito bem, mostra que sabe das coisas.
"Ordem, progresso e amor", de Alysson Siqueira
Eis aqui um samba de muito boa melodia e temática romântica incomum. Uma coisa que chama a atenção de cara é que a história narrada no samba é situada em Curitiba, o que é sempre interessante, já que a cidade não costuma ser associada ao samba. Também gostei muito da voz do Alysson Siqueira, timbre grave e ao mesmo tempo suave.
"Mar grande", de Gustavo Proença
O Mar Grande da música é o que separa a Ilha de Itaparica do continente, na Baía de Todos os Santos, perto de Salvador. Pelo que entendi do papo rápido que tive com o Gustavo Proença, autor do samba, é a terra dos pais dele. Este samba tem uma pegada bem tradicional, típica daqueles lindos sambas que imortalizaram a Clara Nunes. Muito bom de ouvir, muito segura a interpretação do Gustavo, a mistura deve empolgar a plateia.
"Futebol no céu", Cristiano Marques
Esse samba é, na minha opinião, o mais original de todos. Tanto na estrutura melódica quanto na poética da letra. Isso e o timbre do Cristiano Marques, que defenderá o samba, me fizeram lembrar do José Miguel Wisnik. Gostei muito, não é um samba pra levantar poeira, mas musicalmente foi o que mais me chamou a atenção.
"Minha ancestralidade", Willian Nazário
Eis um típico "sambão". Me parece ser o concorrente mais forte para a primeira apresentação, considerando que teremos público, portanto, um clima propício para a empolgação. O nome do samba diz tudo, ele versa sobre raízes culturais, negritude na veia. Como o autor mora distante de Curitiba, quem vai defender o samba vai ser a banda do festival, que tem tudo pra mandar bem.
Agora é torcer para que no domingo a gente consiga apresentar bem nossas músicas e a plateia presente saia de lá satisfeita com o que viu e ouviu.
"Agoniza mas não morre", do mestre Nelson Sargento, com o próprio e a sempre bem-vinda Teresa Cristina.