quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Temporariamente fora do ar

A você que veio até aqui, meu muito obrigado. E minhas desculpas, pois estou e ficarei ainda algum tempo fora do ar, por questões técnicas. Estou trabalhando em casa, e onde moro, uma área rural, a única conexão possível, via celular, é instável e mais lenta que a internet discada. Não dá pra abrir  vídeo, áudio, imagens mais carregadas, nada disso. Então, por motivo de força maior, este blog permanecerá em coma por tempo indeterminado. Mas uma hora dessas voltaremos, isso é certo ;-)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ainda somos os mesmos

Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, em foto sem crédito

Duas das músicas mais marcantes da minha adolescência foram "Apenas um rapaz latino-americano" e "Como os nossos pais", ambas compostas pelo Belchior. Nascido em Sobral, interior do Ceará, Belchior integrou o chamado "Pessoal do Ceará", grupo de compositores e cantores cearenses que conquistou reconhecimento nacional na década de 1970, e que tinha em Belchior, Fagner e Ednardo seus principais nomes. Abaixo, segue uma gravação de "Como os nossos pais" feita ao vivo por Elis Regina. Esta música fez parte do antológico show e disco "Falso Brilhante", de 1975. Certamente, um dos mais primorosos registros da MPB em todos os tempos, para uma das mais belas músicas brasileiras de todos os tempos, nada menos que isso. Um curiodidade do vídeo é que o apresentador, o ator e locutor Reinaldo Gonzaga, esteve trabalhando comigo nestes meses de Ceará.


Elis canta "Como os nossos pais", de Belchior.

sábado, 11 de setembro de 2010

Evaldo Gouveia

Evaldo Gouveia, um dos compositores cearenses de maior sucesso em todo Brasil

Evaldo Gouveia nasceu em Iguatu, interior do Ceará, cidade cujo nome vem da maior lagoa do estado, localizada ali mesmo. Em Iguatu, Evaldo ainda menino já cantava no sistema de som da praça central, mas logo mudou-se para Fortaleza. Aqui, trabalhava na feira e praticava violão. Mais tarde, foi contratado como violonista de uma rádio local e formou o grupo vocal Trio Nagô, com Mário Alves e Epaminondas de Souza. Com o grupo foi para o Rio de Janeiro participar do programa Cesar de Alencar, da Rádio Nacional. Essa participação rendeu ao Trio Nagô um contrato e um programa semanal no rádio. Assim, o grupo passou a ser conhecido nacionalmente, chegando a se apresentar em Paris, em 1956.


Em um filme de 1957, estrelado por Mazzaropi, o Trio Nagô canta "Saudades da Bahia", de Dorival Caymmi.

Nesse período, Evaldo Gouveia começou a compor e teve músicas gravadas por intérpretes importantes da época. Até que conheceu o jornalista e locutor Jair Amorim, capixaba que já era um letrista reconhecido, que tinha no currículo, por exemplo, o megasucesso "Conceição", imortalizado na voz de Cauby Peixoto, música que Jair compôs com o sambista Dunga. Evaldo Gouveia e Jair Amorim formaram uma parceria que em 10 anos produziu 150 músicas, entre elas alguns dos maiores sucessos das décadas de 1960 e 1970, nas vozes de Ângela Maria, Jair Rodrigues, Cauby Peixoto, Agnaldo Timóteo, Maysa, Julio Iglesias e outros. Chegaram, inclusive, a compor o samba-enredo da Portela para o desfile de 1974,"O Mundo Melhor de Pixinguinha", que se tornou um clássico do gênero. O maior intérprete da dupla foi, sem dúvida, Altemar Dutra.

Evaldo Gouveia e Jair Amorim

Jair Amorim faleceu em 1993, em São José dos Campos, interior de São Paulo. Evaldo Gouveia completou 80 anos de idade neste último agosto. Vive em Fortaleza e vira e mexe encontra os antigos e novos amigos e músicos locais. Em uma entrevista recente, Evaldo revelou ter cerca de 40 composições ainda ineditas, e que Paulo Cesar Pinheiro letrou seis delas. É uma referência para grande parte dos compositores e músicos do Ceará, como Fagner, Fausto Nilo e Mona Gadelha. Suas músicas feitas em parceria com Jair Amorim continuam a ser regravadas por artistas como Ana Carolina, Zizi Possi e Emilio Santiago.


Maysa canta a melancólica marcha-rancho "Bloco da Solidão", de Evaldo Gouveia e Jair Amorim

sábado, 28 de agosto de 2010

Rita Lee hoje

Rita Lee, em foto sem crédito

Daqui a pouco vou assistir a Rita Lee, que vem a Fortaleza para uma única apresentação do show "Etc...". Vai ser bem aqui perto, num espaço chamado Siará Hall. Será a segunda vez que verei a Rita num palco. A primeira faz muito tempo, foi num show ao ar livre no Parque do Ibirapuera, numa comemoração de aniversário da cidade de São Paulo. Ela, Paulinho da Viola e Caetano Veloso, ficaram entretendo a enorme plateia até que João Gilberto - com duas horas de atraso - chegou na condição de atração principal. Um show da Rita é garantia de diversão. E de algumas músicas muito boas
 e bastante conhecidas, já que ao contrário da maioria dos artistas, ela não se importa de cantar seus maiores sucessos, embora continue fazendo músicas novas.


Rita Lee e Milton Nascimento, num grande momento, cantam "Mania de você", de Rita e Roberto de Carvalho.


Um trecho do show de sábado, postado no youtube pelo TV Divirta-Ce. A acústica do Siará Hall é péssima, mas Rita Lee e sua banda, capitaneada por Roberto de Carvalho, mandaram muitíssimo bem




quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Dragão do Mar e o Almirante Negro

O cearense Francisco José do Nacimento, o "Dragão do Mar".

Fortaleza possui um centro cultural muito bonito, com progamação intensa de teatro, shows, dança, exposições e cinema. O nome do espaço é Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, e é alusivo a Francisco José do Nascimento, cearense nascido em Canoa Quebrada, em 1839. Negro e alfabetizado apenas ao 20 anos de idade, Fracisco era filho de pescador e chegou a líder dos jangadeiros de Fortaleza, que desde aquela época atracavam suas jangadas na enseada do Mucuripe, bem onde estou hospedado. Foi nomeado prático da Capitania dos Portos, quando envolveu-se na luta abolicionista. Era o ano de 1881, e Francisco José liderou um movimento praieiro que fechou o Porto de Fortaleza ao tráfico de escravos, sendo por isso exonerado do seu cargo.


O gaúcho João Cândido, o "Almirante Negro", naquela que talvez seja sua última aparição em foto

Quando em 1884 o Ceará aboliu a escravatura - portanto, 5 anos antes da Lei Áurea - Francisco, que ficou conhecido como "Dragão do Mar", foi reconduzido ao cargo e promovido a Major, sendo até hoje considerado o maior herói popular do abolicionismo no Ceará. Nesse mesmo ano de 1884, ele colocou sua jangada dentro de um navio negreiro e foi com ela até o Rio de Janeiro. O herói cearense precedeu outro, também do mar e também negro, o marinheiro gaúcho radicado no Rio de Janeiro João Cândido. João Cândido era conhecido como "Almirante Negro". Liderou a Revolta das Chibatas, movimento ocorrido em novembro de 1910, quando marinheiros - quase todos negros e comandados por brancos - se opuseram aos castigos corporais que ainda eram aplicados na Marinha. Ao contrário de Francisco José, a luta de João Cândido não terminou nada bem para os revoltosos. João Cândido foi discriminado e perseguido pela Marinha até o final de sua vida, que terminou em 1969, ele com câncer, pobre e esquecido, aos 89 anos de idade. Foi anistiado postumamente apenas em 2008.


O mesmo João Cândido, em uma foto mais próxima da época em que liderou a Revolta da Chibata

Cruzando as histórias do "Dragão do Mar" e do "Almirante Negro", acho que finalmente passei a entender a citação que Aldir Blanc faz no belíssimo samba "O mestre-sala dos mares", composto em parceria com João Bosco. O samba começa exatamente com a frase "Há muito tempo nas águas da Guanabara, o Dragão do Mar reapareceu". Tomando isso como verdadeiro, para Aldir, João Cândido seria uma espécie de "reencarnação" do cearense Francisco José, não no sentido físico, mas na bravura e idealismo. Poeticamente, Aldir pode ter unido esses dois heróis em uma mesma música. Encontrei uma entrevista com o Aldir onde ele não menciona em nenhum momento isso que estou supondo. Mas me parece inteiramente possível essa hipótese. Depois disso, gosto ainda mais deste samba.



Elis Regina canta "O mestre-sala dos mares", de João Bosco e Aldir Blanc. A censura militar não permitiu que a letra mencionasse o termo "Almirante Negro", alegando que a Marinha brasileira nunca teve um almirante "de cor". Aldir, então, mudou a letra para "navegante negro", e assim ficou.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Dois cearenses e uma casa

Localizada no que hoje é o centro de Quixeramobim, esta casa, cuja parte da frente era um armazém, foi local de nascimento dos dois personagens mais ilustres desta cidade do sertão cearense. E com uma diferença de mais de 100 anos entre um nascimento e outro.

Adoro mapas. Tendo vários mapas do Ceará colados na parede da sala em que estou trabalhando, é natural que, vez ou outra, eu me pegue percorrendo o estado com os olhos da imaginação. Não saí de Fortaleza, e dificilmente conseguirei fazer isso. Uma pena, pois gostaria de conhecer algumas regiões, especialmente aquela conhecida como Sertão Central, que tem Quixeramobim como uma de suas principais cidades. Pois hoje, fazendo meu tour costumeiro, alguns nomes de cidades começaram a me trazer a lembrança de uma página da história brasileira que sempe me atraiu muito: a Guerra de Canudos. Para você ter uma ideia, no início da década de 1990 percorri sozinho a região do conflito, pesquisando, visitando cidades, arraiais, sítios arqueológicos, conversando com filhos de "conselheiristas" mortos na guerra, lendo relatos originais, fotografando ruínas. Tornei-me um conhecedor do assunto, fui até entrevistado pela revista Superinteressante para falar sobre o assunto. Também cheguei a participar - embora rapidamente - de uma espécie de confraria que havia em São Paulo reunindo estudiosos do escritor Euclides da Cunha. Porém, há muito tempo não retomo esse tema, embora o interesse permaneça sempre vivo em mim.

O corpo de Antonio Conselheiro, fotografado momentos antes de ser decapitado

Corri pesquisar e as lembranças se justificaram. Antonio Conselheiro, líder do Arraial de Canudos, é cearense. Nasceu em Quixeramobim, então um povoado paupérrimo encravado num sertão que não inspirava futuro a ninguém. De lá, ele se deslocou para outros povoados do estado. Chegou a ser professor em Sobral, hoje uma das principais cidades do Ceará, até adentrar o sertão baiano e fundar a vila do Bello Monte, às margens do rio Vaza-barris. Não vou me alongar na história, sob pena de me empolgar e me demorar demais. Mas o que foi ainda mais interessante foi descobrir que na mesma casa onde nasceu Antonio Conselheiro, cujo nome de batismo era Antonio Vicente Mendes Maciel, nasceu também o letrista e arquiteto Fausto Nilo. A casa é hoje o "Memorial Antonio Conselheiro", e é tombada pelo patrimônio histórico do Ceará. Na fachada praticamente original (vide acima), duas placas: uma alusiva ao Conselheiro, outra ao compositor.


Nesta foto sem crédito, o vilarejo chamado de Canudos Velho, com uma estátua de Antonio Conselheiro em destaque. Ao fundo, lá embaixo, o açude de Cocorobó, construído pelos militares em 1969, na tentativa de sepultar o palco de uma das mais tristes páginas da história do nosso país

Fausto Nilo é parceiro de vários artistas de nome, como Fagner, Dominguinhos e Moraes Moreira, e possui músicas gravadas por Elba Ramalho, Luiz Gonzaga, Simone, Gal Costa, Ney Matogrosso e muitos outros. Dias atrás, encontrei num jornal local uma página inteira dedicada a uma entrevista com o Fausto Nilo, onde, para a minha surpresa, não havia uma linha sequer mencionando o letrista, apenas o arquiteto, sinal do quanto ele é respeitado aqui também como tal. Outro fato interessante: Fausto Nilo não só nasceu na mesma casa em que Antonio Conselheiro veio ao mundo, como seu pai usava a casa para um comércio, coisa que o pai do Conselheiro também fazia, lá na primeira metade de 1800. Para alguém que é, como eu, um entusiasta da Guerra de Canudos e da MPB, essa história foi uma descoberta e tanto.



Fausto Nilo canta com extrema delicadeza um dos seus maiores sucessos, composto em parceria com Moraes Moreira, "Meninas do Brasl"

sábado, 31 de julho de 2010

Cajuína

O suco do caju é filtrado. Acrescenta-se gelatina para a retirada da “trava” natural da fruta. Em seguida, o líquido é clarificado. A cor dourada vem da caramelização dos açúcares naturais. Eis a cajuína, bebida típica do Piaui, mas que – é o que se diz – foi criada pelo cearense Rodolfo Teófilo, farmacêutico e escritor que morreu em Fortaleza em 1923.

O texto a seguir, de autoria do Caetano Veloso, extraí do blog do meu amigo Giovanni Soares (http://noticiasdapauliceia.blogspot.com/). Caetano conta como nasceu sua bela "Cajuína". Eu conhecia uma outra versão pra essa gênese, mas o Giovanni é baiano, sabe das coisas e sabe de música. Não bastasse isso, a explicação saiu do próprio autor da canção. Tomo a outra como lenda, então, e pronto. Em tempo: cajuína é uma delícia!

Com  a palavra, Caetano Veloso:

“Numa excursão pelo Brasil com o show Muito, creio, no final dos anos 70, recebi, no hotel, em Teresina, a visita de Dr. Eli, o pai de Torquato [Neto]. Eu já o conhecia pois ele tinha vindo ao Rio umas duas vezes. Mas era a primeira vez que eu o via depois do suicídio de Torquato. Torquato estava, de certa forma, afastado das pessoas todas. Mas eu não o via desde minha chegada de Londres: Dedé e eu morávamos na Bahia e ele, no Rio (com temporadas em Teresina, onde descansava das internações a que se submeteu por instabilidade mental agravada, ao que se diz, pelo álcool). Eu não o vira em Londres: ele estivera na Europa, mas voltara ao Brasil justo antes de minha chegada a Londres. Assim, estávamos de fato bastante afastados, embora sem ressentimentos ou hostilidades. Eu queria muito bem a ele. Discordava da atitude agressiva que ele adotou contra o Cinema Novo na coluna que escrevia, mas nunca cheguei sequer a dizer-lhe isso. No dia em que ele se matou, eu estava recebendo Chico Buarque em Salvador para fazermos aquele show que virou disco famoso. Torquato tinha se aproximado muito de Chico, logo antes do tropicalismo: entre 1966 e 1967. A ponto de estar mais frequentemente com Chico do que comigo. Chico e eu recebemos a notícia quando íamos sair para o Teatro Castro Alves. Ficamos abalados e falamos sobre isso. E sobre Torquato ter estado longe e mal. Mas eu não chorei. Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental. Quando, anos depois, encontrei Dr. Eli, que sempre foi uma pessoa adorável, parecidíssimo com Torquato, e a quem Torquato amava com grande ternura, essa dureza amarga se desfez. E eu chorei durante horas, sem parar. Dr. Eli me consolava, carinhosamente. Levou-me à sua casa. D. Salomé, a mãe de Torquato, estava hospitalizada. Estão ficamos só ele e eu na casa. Ele não dizia quas e nada. Tirou uma rosa-menina do jardim e me deu. Me mostrou as muitas fotografias de Torquaro distribuídas pelas paredes da casa. Serviu cajuína para nós dois. E bebemos lentamente. Durante todo o tempo eu chorava. Diferentemente do dia da morte de Torquato, eu não estava triste nem amargo. Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Dr. Eli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei. No dia seguinte, já na próxima cidade da excursão, escrevi Cajuína.”


Caetano Veloso em um atual e belíssimo arranjo para "Cajuína".

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Ao alcance da janela

Praia do Futuro, Fortaleza, em foto sem crédito

Vim a Fortaleza a trabalho, e trabalho duro. Pelo tempo que estiver aqui, até final de setembro, será assim, e com isso meu blog ficará um pouco pra escanteio. Pra você ter uma ideia, a essa hora do domingo (comecei esse post às 21h30 do domingo, mas só agora consegui voltar aqui pra terminá-lo), o Brasil decidindo mais um título da Liga Mundial de Volei, e eu aqui na minha mesa de trabalho. A areia da praia do Mucuripe coalhada de gente comendo camarão fritinho no alho e óleo, e eu aqui na minha mesa de trabalho. Mas antes que você possa achar que estou me queixando, saiba que gosto muito desse trabalho, inclusive porque é uma loucura om prazo determinado. E vai ter uma noite ou outra em que vou conseguir dar uma esticada pra algum bar, restaurante, barraca de praia (será que alguma funciona à noite?).

Enquanto isso, resolvi mudar o layout do blog, acrescentar um fundo de areia, alusivo à cidade em que estou, bem no alto do mapa do Brasil, topo do Nordeste brasileiro. O sol aqui é de rachar e comparece dia após dia, religiosamente. Li hoje num jornal que as noites, por essa semana que finda, tiveram temperatura mais amena, os termômetros oscilam entre 23 e 25 graus. Em Curitiba, quando faz isso durante o dia é porque estamos no verão. Coisas do continente chamado Brasil. Que você tenha um ótimo início de semana. E que eu consiga me organizar melhor pra dar mais movimento a esse cantinho aqui, de que tanto gosto.



Ednardo, compositor e cantor nascido em Fortaleza, fez sucesso em todo o país nos anos 1970. Sua música "Pavão Mysterioso" foi tema da ótima novela Saramandaia, de Dias Gomes, que foi ao ar em  l976. Mas postei essa "Terral", música que eu cantava muito ao violão na época, cujo vídeo acima traz uma versão bem mais recente, porque tem sido interessante passar pelo bairro Aldeota e ver a Praia do Futuro da janela de um restaurante onde às vezes tanho almoçado. Os dois lugares são citados na letra da canção, o que fez com que eles me soassem familiar logo de cara, mesmo eu nunca tendo estado aqui antes.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

As velas do Mucuripe

A praia do Mucuripe, em Fortaleza, Ceará, em foto que bati domingo passado bem cedo, da janela do hotel em que estou hospedado.

Fiquei uns dias em trânsito, viajando e me instalando em uma nova cidade, para onde vim a trabalho. Esse processo me impediu de manter postagens regulares, mas ao poucos vou tentar voltar à ativa por aqui. Estou em Fortaleza, a bela capital do Ceará. Ficarei aqui por 3 meses, e quero aproveitar minha estada para falar no blog algo sobre a música nordestina, com um pouco mais de destaque para a produção cearense, na medida do possível. Digo “na medida do possível”, porque não terei o tempo necessário para me embrenhar muito. Vou como der.


Meu apartamento fica no 13º andar do prédio à direita.

Como estou num hotel localizado em frente à praia do Mucuripe, resolvi começar essa jornada musical a partir dela. Claro que quando os cearenses Fagner e Belchior compuseram a música “Mucuripe”, no momento em que a carreira de ambos encontrava-se apenas no começo (com esta música, eles ganharam o Festival de Música Popular do Centro de Estudos Universitários de Brasília, no início dos nos 1970), a praia de Mucuripe certamente era tranquila, pouco povoada, talvez uma pacata vila de pescadores. Nada que sugerisse o que ela se tornaria décadas depois, com essa montoeira de prédios e o asfalto invadindo a areia e roubando parte da paisagem. Ainda assim, o cenário é muito bonito, as velas seguem saindo para pescar e a música “Mucuripe” sempre será, para mim, uma das mais lindas canções brasileiras.

http://www.youtube.com/watch?v=XS7CIwTTGlE&feature=PlayList&p=D8D2B03123A25DEC&playnext_from=PL&playnext=1&index=57
(o código de incorporação deste vídeo não está disponível, basta clicar no link)

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Segundo lugar

Foto sem crédito

Como contei brevemente no post anterior, participei da quarta edição do festival Samba do Compositor Paranaense. As apresentações aconteceram no domingo passado, na Sociedade Treze de Maio. Como em todas as edições, haviam sete sambas selecionados entre os inscritos, sendo que destes um foi escolhido, em votação do júri e da platéia, para integrar o CD do festival, a ser gravado ao final de todas as edições.

O nível dos sambas desta edição estava muito bom. Na minha opinião, essa disputa foi mais difícil que a primeira. Fui o sexto a cantar, e sinceramente achava que meu samba “Primeiro tempo” não se classificaria entre os primeiros. No entanto, fiquei em segundo lugar, o que me deixou feliz, pois novamente não levei ninguém para torcer e votar para a minha música. Aliás, desta vez nem minha mulher, a Ariane, pode ir, porque estava com uma gripe violenta, tossindo muito. Então, provavelmente as notas que me classificaram em segundo vieram somente dos jurados, que teve entre seus componentes uma figura das mais respeitadas entre os sambistas de Curitiba, a Mãe Orminda, primeira mulher do Brasil a defender um samba enredo na avenida. Além de muito carismática, a mulher canta muito, e me deixou muito feliz quando olhou para mim e disse “teu samba é maravilhoso”. Ganhei o dia ali. Agora, o samba “Primeiro tempo” vai para uma espécie de repescagem, com os segundos classificados de todas as etapas, e periga entrar no CD. É esperar para ver. Quando eu tiver um áudio deste samba, posto ele aqui. Por agora, fique com a voz e a presença da Mãe Orminda.


Mãe Orminda canta "Como o samba quer e consente" (Cláudio Ribeiro / Tony do Bandolim)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Mais um samba no festival

Domingo agora, dia 27, vai acontecer a 4ª edição do festival Samba do Compositor Paranaense. Este festival acontece uma vez por mês, desde março passado. Para cada apresentação são selecionados 7 sambas, e os votos do juri e da plateia decidem qual deles vai fazer parte do CD que será produzido ao final da competição. É a segunda vez que vou participar do evento. O samba que inscrevi se chama "Primeiro tempo", que compus no final do ano passado. Não tenho um áudio dele ainda, talvez tenha na semana que vem. Desta vez, as apresentações vão acontecer na quadra da Sociedade Treze de Maio. Inaugurado em junho de 1888, um mês após a Abolição da Escravatura, numa região que era habitada por negros e que hoje compõe o centro histórico de Curitiba, o lugar oferecia assistência social e promovia a cultura negra entre os escravos libertos.

Rua Treze de Maio, Curitiba. Foto de Pablo Saraiva

Entre os que vão estar lá comigo, concorrendo ao prêmio, tem o vencedor da primeira edição, Gustavo Proença, a cantora e compositora curitibana Clarissa Bruns, que conheci também na primeira edição e que gravou um CD em 2007,  além da Fabiana Lima e do Bruno Andrade, que pelo que pude saber, já há algum tempo desenvolvem juntos um trabalho muito interessante na música. Dos outros participantes eu não consegui informações, vou conhecer mesmo vai ser na hora. Aliás, na mesma hora das apresentações vai estar rolando o jogo Argentina x México, pelas oitavas de final da Copa do Mundo. Apesar do nome do meu samba ser "Primeiro tempo", não vou poder assistir nem o primeiro nem o segundo tempo da partida. Mas a causa é justa. O samba tá bonito, o arranjo na medida, a galera do Grupo Paranapoeta me dando uma força nos vocais, acho que vai dar pra mandar o recado. Depois assisto os melhores momentos do jogo. E que vença quem jogar mais bonito. Na bola e no samba.


Sambas classificados de junho (em ordem alfabética):

Casal companheiro (Cláudio César Peba e Ivo Pereira de Queiroz)

Conselho de amigo (Gusta Proença)

Eterno aprendiz (Julio Morais e Wandeco)

Mal ou bem (Clarissa Bruns)

Morena do barreado (Roze Dobre e Fabiana Lima)

Primeiro tempo (Marcelo Amorim)

Velho espantalho (Luiz Zanotti e Bruno Andrade)

 

Paulinho da Viola canta um pout-pourri com os sambas "14 anos" (Paulinho da Viola e Elton Medeiros), "Jurar com lágrimas" (Paulinho da Viola), "Recado" (Casquinha da Portela e Paulinho da Viola), "Coisas do mundo, minha nêga" (Paulinho da Viola)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Bem-vinda, Adyel

A cantora Adyel Silva, em foto sem crédito

Notas & Trilhas recebeu hoje a visita e um comentário da cantora Adyel Silva. O blogueiro aqui, que já agradeceu a correção que ela fez na informação que dei sobre ela no post "O jazz, a cantora e eu - parte 1", espera ter ganho uma amiga. Porque uma bela voz para incluir entre aquelas que gosto de ouvir já ganhei. Confira você mesmo no vídeo abaixo, extraído do Programa do Jô, a presença de palco e a técnica vocal pra lá de refinada de Adyel Silva.


Adyel Silva canta "Seo Zequinha", música de Renato Consorte e Adyel Silva

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Intervalo - Guinga

O compositor e violonista Guinga, em foto sem crédito

A Copa do Mundo começou. Aliás, o primeiro jogo está rolando neste momento, numa tevezinha xexelenta que tem aqui na sala da criação da agência, por onde mal dá pra saber no pé de quem a bola está. Juro que eu não queria falar de outro assunto, tamanho é o meu interesse por futebol e minha empolgação pela Copa da África, principalmente pelo que significa um evento como esse ser realizado lá. Mas vou ter que falar de outro assunto. Ou melhor, vou ter que continuar falando do assunto que justifica este blog: a música.


O violão de Guinga, o clarinete de Paulo Sérgio Santos e a voz de Lucia Helena na "Choro pro Zé", parceria do Guinga com o mestre Aldir Blanc

Ontem fui ao teatro Guaira assistir ao show do Guinga, show comemorativo aos seus 60 anos de idade. Quem conhece a obra do Guinga sabe que suas músicas, além de belíssimas, são de difícil execução. Por isso, ele está sempre acompanhado de grandes músicos. Na noite de ontem não foi diferente. Dois clarinetistas, o excelente Paulo Sergio Santos e o italiano Gabriele Mirabassi, que toca com uma técnica fantástica, com uma sutileza no sopro que deixou a plateia de queixo caído; e os violões do festejado Lula Galvão e do virtuose Marcus Tardelli, que tem no Guinga um fã e grande incentivador. Foi de lavar a alma, o teatro aplaudindo de pé várias vezes e por muito tempo essa reunião rara de talentos. Parabéns, Guinga. Você continua enriquecendo nossa música com melodias e harmonias dignas de um gênio da raça.


O violonista Marcus Tardelli interpreta "Mingus samba", também de Guinga e Aldir Blanc

terça-feira, 1 de junho de 2010

O jazz, a cantora e eu - final

Izzy Gordon, em foto sem crédito

Alguns minutos depois do show terminado, após eu ter curtido muito ficar observando as pessoas irem deixando, aos poucos, o teatro, todas com expressão admirada pelo espetáculo que tinham acabado de assistir, dirigi-me aos camarins. Numa porta atrás do palco vi uma escada que descia. Por ela subiam, alvoroçados, bailarinos e músicos aos montesa. Um pouco intimidado, abordei um deles e perguntei pela Izzy. Era justamente o Sebastian, que sem me dizer nada se voltou para o corredor da escada e berrou a plenos pulmões "- Deniseeeee!!!". Pronto, eu acabara de ser apresentado ao nome de batismo da estrela. Agradeci àquela figura ímpar, que sorriu e se foi. Em dois ou três minutos, eis que ela surge, já sem os figurinos deslumbrantes do show, mas ainda assim belíssima. Demonstrando ansiedade, Izzy pediu pra ver o que eu tinha trazido pra ela, então entreguei a fita, explicando do que se tratava. Ela adorou o presente, e sugeriu que saíssemos dali pra comer algo, ouvindo já a fita no carro dela, um intrépido fusca que tinha na placa as letras SW, que a Izzy, rindo muito, disse ser a sigla de "'S Wonderful", um clássico do jazz americano, composto pelos irmãos George e Ira Gershwin. Eu não conhecia a música, mas isso era o de menos naquela noite encantada.


Diana Krall canta "'S Wonderful", em uma bela versão bossa-nova

Por imperfeição minha, e também por coisas da vida, há muito tempo não falo com a Izzy Gordon. Sei que ela continua cantando, e cada vez melhor. Soube que é dela a voz da Maitê Proença, quando esta canta no filme "Onde andará Dulce Veiga", de 2007. Fomos amigos próximos e nos divertimos juntos durante um curto tempo. Tive o privilégio de conhecer sua família musicalmente iluminada. A mãe da Izzy, Denise Duran, tinha sido cantora. Sim, ela é irmã da Dolores Duran, ou seja, Izzy é sobrinha de uma das grandes compositoras da história da nossa música. Além disso, é filha do cantor Dave Gordon (que salvo erro de memória meu, é de origem jamaicana), e irmã do também cantor Tony Gordon. Enfim, Izzy cresceu sendo acordada na madrugada pela presença em sua casa de alguns amigos ilustres de seu pai, gente como Cezar Camargo Mariano, Cassiano, Agostinho dos Santos, Rita Lee e Wilson Simonal. Dancei com a Izzy no espetáculo "Emoções Baratas" por ainda outras noites. Sempre que podia eu ia vê-la (com a vantagem de já não pagar mais o ingresso) e ficava no mesmo lugar, de onde ela me tirava e me conduzia ao palco onde só nós dois - além, provavelmente, de todos os demais integrantes do elenco - sabíamos que não formávamos um casal aleatório, como os outros que rodavam à nossa volta. E assim, desse jeito meio mágico, o jazz entrou definitivamente na minha trilha sonora.


Izzy Gordon canta "A noite do meu bem" e "O que é que eu faço?", do seu CD "Aos mestres com carinho", gravado em homenagem à tia Dolores Duran

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Eu, a Fernanda, o Tom Zé e a Julia Roberts

Antônio José Santana Martins, o baiano Tom Zé, em foto sem crédito, óxente!

De hoje a domingo tem Tom Zé e seu show "Pirulito da Ciência" aqui em Curitiba. Na terca-feira passada, a bilheteria do teatro abriu ao meio-dia já com uma fila enorme. Cheguei 15 minutos depois e fui lá pra trás, depois da curva da esquina, onde esperei, perei, perei e a bicha ("fila" em português lusitano) mal se movia. Explicado depois: ia chegando gente, amigo do amigo do amigo que já tava lá e ficava ali conversando, como quem não quer nada. E assim a fila crescia mais pros lados que pra trás, como devia crescer. Ninguém criou caso, todo mundo com o pensamento prejudicado pela fome - eu ao menos era um que estava - a coisa não podia dar certo. Antes de eu conseguir chegar na boca do caixa já não tinha mais ingresso nem pra sexta, nem pra sábado, nem pra domingo. Dancei, dançamos eu e a Fernanda, que trabalha comigo e comigo também viveu essa angústia por exata hora e meia. Fomos correndo engolir o almoço com aquela cara de tacho, certos de termos perdido não só hora e meia da nossa vida, como também um baita de um show.

Tom Zé é genial, e isso não é novidade pra ninguém que já ouviu, viu, ou mesmo leu algo dele ou sobre ele. Inclusive aquela história mais do que conhecida e abençoada da "descoberta" do artista pelo ex-lider do Talking Heads, o músico David Byrne, no final da década de 1980. E encerro por aqui esse papo, que já tinha me conformado, mas quanto mais falo disso mais fico puto com os amigos do amigo do amigo que foram chegando naquela fila que não havia meio de andar. Agora é esquecer e esperar por uma outra oportunidade pra ver o cara de perto, sabe-se lá quando e onde. Por outro lado, é bom saber que o Tom Zé conquistou o merecido direito de mobilizar tanta gente em torno do seu trabalho. Tinha uma galera bem jovem lá pra comprar ingresso, sinal de que nem tudo está perdido. A não ser aquela hora e meia que passamos, eu e a Fernanda, ouvindo uma mulher que também estava na fila narrar um best seller que ela tinha lido e adorado, e que ia virar filme com a Julia Roberts no papel principal, etc. e etc. Tom Zé que é bom, nada.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O jazz, a cantora e eu - parte 3

O álbum duplo "Singers", da coleção Atlantic Jazz, do lendário selo norteamericano Atlantic Records. Uma coletânea de vozes fantásticas em 25 músicas idem. Tempos depois, encontrei a série completa em um sebo no centro velho de São Paulo. Trata-se de um verdadeiro tesouro musical.

Claro que saí dali encantado. Além do belíssimo espetáculo, da mágica recriação de uma época, dos contagiantes números de dança, das músicas geniais, do show de iluminação, do cenário impecável, dos drinques servidos com absoluta honestidade, eu havia dançado com a linda cantora. No caminho de volta para casa, combinei com o Alexandre que estaria no dia seguinte, domingo, na casa dele. Iria gravar uma fita cassete para a Izy Gordon. Queria gravar exatamente as músicas daquele disco que ele tinha e que ouvimos no percurso até o teatro. Depois, eu voltaria para ver o show, mas desta vez sozinho. Ele se divertiu com a história, e na verdade ambos estávamos meio embriagados, meio bestas. Qualquer coisa que disséssemos a respeito do “Emoções Baratas” – e foi disso que falamos por todo o caminho – seria muito bem vinda.


Jimmy Witherspoon, impecável, canta "Tain’t nobody’s bizness if I do"

Para a minha alegria, o Alexandre resolveu me dar a fita que estava rodando no toca-fitas do carro. Como ele tinha o álbum, ele gravaria outra depois. Assim, ganhei um tempo para chegar mais cedo na bilheteria do teatro no domingo, já que corria o risco de não ter ingresso, mesmo eu precisando de apenas um. Para a minha sorte, não só havia alguns ingressos avulsos ainda disponíveis, como encontrei um no mesmo balcão do bar, embora no banco mais à lateral, de visibilidade pior que o da noite do sábado. Já tendo tomado o meu lugar, fiquei apenas na expectativa da entrada da Izy no palco. Num dos bolsos da minha jaqueta, a fita cassete que eu pretendia entregar para ela naquela noite. Só não sabia ainda como faria isso.


Ruth Brown em "Mama He Treats Your Daughter Mean"


Eis que a Izy aparece no palco, de um jeito tão luminoso que vi nela uma mulher ainda mais bonita que tinha visto na noite anterior. O tecido macio do vestido que ela usava escancarava as curvas do seu corpo. Fiquei curtindo o show sozinho, apreciando cada detalhe que tinha me escapado na primeira noite. A performance dos dançarinos e dançarinas impressionava. Entre todos destacava-se um negro magro, elegante e vigoroso, de nome Sebastião. Terminada a temporada do “Emoções Baratas”, Sebastião adotaria o nome artístico de Sebastian e passaria a estrelar as campanhas publicitárias da rede de lojas C&A, coisa que fez por muitos anos.


Ella Fitzgerald e o clássico da bossa nova "Desafinado"

Chega, então, a hora da volta do intervalo. Para a minha surpresa, a Izy veio na minha direção e me tirou novamente para dançar, o que me deixou muitíssimo feliz. E lá fomos os dois para o palco, desta vez mais à vontade. Durante a dança, ela me explicou que cada um tinha que tirar alguém de um determinado setor do teatro. Disse que aquilo sempre a deixava um pouco constrangida, pois ela tinha receio de convidar alguém que se mostrasse depois uma roubada. Contou que na noite do sábado, como sempre fazia, logo que entrou no palco para o primeiro número foi olhando as opções que teria para escolher, e que assim que bateu os olhos em mim (de um jeito tão sutil que não percebi) decidiu-se imediatamente por me convidar. Por fim, revelou que tinha ficado muito feliz de me ver de novo ali, quase no mesmo lugar, pois tinha se sentido bem comigo. Eu, claro, adorei saber daquilo, e disse que tinha algo para entregar a ela depois do espetáculo. Ela pediu que eu a procurasse no camarim uns quinze minutos depois do fim do show. Despedimo-nos no palco com um rápido beijo. Ela sorriu linda, e pelo restante do show eu tive a sensação de que ela cantava para mim.
(continua)


Peggy Lee canta "Why don't you do right"

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ainda um intervalo - Quinteto Violado

O grupo Quinteto Violado, em foto sem crédito

Os dias têm sido muito corridos, e as noites nem sempre muito diferentes disso. Enquanto não consigo dar sequência na história "O jazz, a cantora e eu", o jeito é apelar para outro clipe. Desta vez, entra em cena o Quinteto Violado, grupo surgido no Recife no início dos anos 1970. Sua mistura de sons e sotaque nordestinos com timbres e arranjos eruditos inaugurou, à época, um novo caminho para a música brasileira. Hoje, saio do trabalho e vou direto para o teatro assistir, pela primeira vez, a um show deste grupo, cuja sonoridade sempre me encantou. O repertório será predominantemente composto por músicas do Luiz Gonzaga. Mesmo se tratando de clássicos pra lá de revisitados por um sem número de artistas, é certo que nada será como antes. Afinal, estamos falando do Quinteto Violado.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Intervalo - Zé Renato

O grande Zé Renato, em foto sem crédito

A elegância e a sofisticação de Zé Renato estarão em Curitiba neste fim de semana, no palco do Teatro da Caixa. No repertório do show, além de inéditas e de alguns sucessos de sua carreira de mais de 30 anos, vão estar as músicas do CD "É Tempo de Amar", em que o artista gravou clássicos da Jovem Guarda. Uma curiosidade desse álbum, é que o Zé não recebeu a tempo a autorização para regravar as músicas compostas pelo Roberto Carlos. Então, no disco só entraram sucessos da Jovem Guarda que não foram criados pelo Rei, o que é quase inconcebível. Pois essa lacuna ele resolve no show, mandando ver nas composições do lider do movimento que chacoalhou o país na segunda metade dos anos 1960.

O Zé Renato é um dos caras que eu mais gosto na música brasileira. Dono de um timbre de voz suave e muito gostoso de ouvir, ele sempre primou pela qualidade impecável em seus diversos projetos, seja nos discos solo, seja quando está integrando o grupo Boca Livre (do qual faz parte desde o início), ou nas vezes em que participa do trabalho de outros artistas. Trata-se de um músico de primeiríssima linha. Estou indo pra lá, meu ingresso é na fila do gargarejo! Não tenho dúvida de que vai ser um show muito bom.

Nota posterior: como eu esperava, o show foi ótimo, o Zé Renato está num estágio fantástico como músico, compositor e cantor. Retificando a informação que dei aqui, o Zé disse que  não gravou as músicas do Roberto não porque a autorização não teria chegado em tempo, mas sim porque o Roberto não autorizou mesmo. Coisas do rei...


Zé Renato canta "Namoradinha de um amigo meu", de Roberto Carlos

sexta-feira, 30 de abril de 2010

O jazz, a cantora e eu - parte 2

Tomamos nossos lugares no teatro, ou no recriado bar. Havíamos escolhido duas cadeiras ótimas: bem no balcão do bar, à direita do palco. Havia seis daqueles banquinhos giratórios revestido de cor negro dispostos ao longo de m belo balcão, e ali nos pareceu perfeito para a proposta do “Emoções Baratas”. Dito e feito. Antes do início do espetáculo os garçons anotavam pedidos e serviam as mesas. Eu e o Alexandre pedíamos ali mesmo o que queríamos beber e ali éramos atendidos. Como havia acabado de fazer um curso de coquetelaria, eu estava em dia com as receitas dos drinques clássicos. Um dos meus preferidos era o old-fashioned, que leva uma dose de bourbon, angostura, club soda e açucar, e foi isso que pedi e repeti ainda antes que a primeira música se iniciasse.


Sarah Vaughan canta "Shadow of your smile"

A ambientação era muito bonita e bem feita, estávamos envolvidos por uma atmosfera distante, prontos para absorver a música de Duke Elington. Todos os lugares tomados, o serviço de bar diminuía gradualmente. De repente, uma surpresa. Um dos garçons que até então servia as mesas tirou um clarinete debaixo do casaco e começou a tocar. Daqui a pouco outro e mais outro garçom começou a tirar instrumentos escondido sob bandejas e de dentro do uniforme, passando a juntarem-se ao tema musical tocado pelo primeiro. Mais surpresos ainda, vimos um e outro garçom e garçonete começar a dançar entre as mesas, revelando serem integrantes do corpo de bailarinos do espetáculo. E assim, de forma criativa e inusitada o show começava. Os garços-músicos e os garçons-dançarinos iam subindo ao palco, a big band e o elenco de dança iam sendo completados por mais gente vinda dos bastidores.


Ella Fitzgerald, com Oscar Peterson ao piano, canta "Round Midnight", composição de Thelonious Monk

Foi quando surgiu no palco uma das cantoras do espetáculo. Eu e o Alexandre ficamos de queixo caído no mesmo instante. Ela era muito bonita, estava vestida lindamente, com um vestido que realçava as formas do seu corpo. Entrou cantando um tema romântico do repertório do Duke Elington. Cutuquei o Alê e nos perguntamos: quem é essa mulher? Assim que terminou seu primeiro número, a cantora Izy Gordon desapareceu no gelo seco do palco. A partir dali, além de curtir o belíssimo show em cada detalhe, ficamos na expectativa de que a Izy voltasse para mais um número, e cada vez que isso acontecia ela parecia vir ainda mais bonita em um novo vestido e com uma nova música. Até que houve um intervalo.


Shirley Horn e Wynton Marsalis interpretam "Basin Street Blues"

Movimentação para os banheiros, garçons – desta vez os de verdade – novamente a postos. Pedimos mais uma bebida e ficamos comentando a beleza do espetáculo, a qualidade dos músicos dos dançarinos e dançarinas, as músicas fantásticas, a qualidade da voz das cantoras e, claro a beleza da Izy Gordon. Estávamos definitivamente encantados. Já tinha passado um tempo que o intervalo seguia quando as luzes baixaram e os acordes de uma nova música começaram a ser ouvidos. Dei as costas para o salão e fui me servir de um último gole do meu copo. Ao mesmo tempo em que senti o Alexandre cutucando meu braço ouvi a voz de uma mulher atrás de mim: “- Dança comigo?”. Quando me virei, era ninguém menos do que a Izy Gordon sorrindo um sorriso belíssimo e com a mão estendida na minha direção. Fiquei sem reação, ela perguntou de novo “- Dança comigo?”. Para saurpresa de todos, naquele momento do show alguns dançarinos e as duas cantoras tiravam pessoas da plateia para dançar. Eu, claro, topei na hora e dei a mão a ela, que foi me guiando para o paco. Antevendo um fiasco, disse no ouvido dela “eu não sei dançar”, ao que ela respondeu “nem eu”. Mais alguns passos e estávamos sobre o palco em meio aos músicos e a meia dúzia de casais, dançando e conversando sobre coisas que nem me lembro. Terminada a música nos despedimos e voltei para o meu balcão de bar. O show seguiu adiante. O Alexandre, com os olhos arregalados, me disse “meu, você ganhou na loteria!” Ainda sob o efeito do perfume daquela bela cantora, decidi que no dia seguinte voltaria para ver de novo o show. E levaria algo para presentear minha nova musa.
(continua)


Anita O'Day canta o clássico "Stella By Starlight"

terça-feira, 20 de abril de 2010

O jazz, a cantora e eu - parte 1


Até aquele momento eu nunca havia parado para ouvir jazz. Por estar muito ligado à música brasileira e praticamente desconhecer os artistas que faziam jazz, eu não me sentia atraído. Mais do que isso, o pouco que tinha ouvido me levava a crer que jazz era uma música em que se abusava do virtuosismo, e isso não me entusiasmava. Um dia, depois de ter ficado algum tempo sem ver o Landinho Vasques e o Alexandre, que eram do grupo Sangue Novo, do qual fiz parte por um tempo, fui me encontrar com os dois na casa do Landinho. Lá, cantei algumas das minhas composições mais recentes e ouvi as coisas novas do Landinho. Ele estava visivelmente evoluindo no ofício. Eu mostrei uma música que tinha feito naquela semana, uma bossa-nova de andamento mais lento, que cantava num tom de voz bem alto, com bastante facilidade. A mãe do Landinho, que nos ouvia lá da cozinha, chegou a fazer um elogio, o que me deixou feliz. Aí, em determinado momento, o Landinho botou pra girar na vitrola um LP, do qual saiu a voz rouca de uma antiga cantora americana que eu já tinha ouvido não sabia onde. Ele perguntou se eu conhecia, eu não quis arriscar. Era Billie Holiday.


Billie Holliday interpreta "I love you, Porgy", da ópera-jazz Porgy and Bess, composta pelo americano George Gershwin

Por aquela época, eles andavam ouvindo jazz aos montes. Era como se uma nova fase tivesse sido inaugurada na vida dos dois. Meus ouvidos não habituados não desgostaram do que ouviram, mas também não posso dizer que gostei. Achei curioso aquele timbre e aquele jeito de cantar. Eis que dias depois encontro o Alexandre e ele me popõe assistirmos juntos o musical “Emoções Baratas”. Topei e marcamos para o próximo sábado. O Alexandre estava decidido a me converter para o jazz, então gravou uma fita cassete inteira com clássicos do gênero, os chamados "standards". Como morávamos no mesmo bairro, fomos da Vila Gustavo até Pinheiros ouvindo canções belíssimas cantadas por vozes marvilhosas. Não tinha como não gostar daquilo. Além da qualidade inegável do material, ali estava muito da sonoridade de um Johnny Alf, de um Tom Jobim, só pra citar três dos compositores brasileiros que foram buscar no jazz estruturas harmônicas que a música popular brasileira desconhecia antes da bossa-nova.


Carmen McRae canta "I'm Going To Lock My Heart, And Throw Away The Key",
de Jimmy Eaton e Terry Shand

O musical “Emoções Baratas” foi um acontecimento em São Paulo. Ficou dois anos em cartaz, sempre com casa lotada, num espaço muito bonito que existia (ou ainda existe) no bairro Pinheiros, um misto de casa de shows e bar cujo nome não me lembro. Dirigido por José Possi Neto, o "Emoções Baratas" era um teatro-dança que recriava o clima dos night clubs americanos da década de 1950. Num ambiente esfumaçado onde não havia poltronas, mas sim mesas e cadeiras, além de um palco e um bar de verdade, com balcão e tudo, dançarinos – entre eles o Sebastian, que depois passaria a estrelar os comerciais da C&A – faziam coreografias sensuais em torno da música extraordinária de Duke Ellington, executada com muita competência pelos músicos da big band paulistana Heartbreakers. Havia também duas cantoras, duas crooners. A mais conhecida era a mineira Misty, que no início se revezava com a novata Adyel. Filha de Adhemar Ferreira da Silva, primeiro atleta brasileiro a ganhar medalha de ouro em olimpíadas, Adyel havia ganho notoriedade ao cantar o jingle de um comercial de TV. Porém, tinha deixado o elenco semanas antes. Sua substituta no espetáculo acabou sendo responsável por uma das melhores histórias que vivi com a música e com uma mulher.
(continua no próximo post)


Duke Ellington e sua banda executam "Satin Doll", clássico do próprio Duke

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Dia da Voz

Há mais ou menos um mês e meio comecei a estudar canto. Esperei algum tempo até que a professora que eu queria que me orientasse abrisse um horário à noite em sua agenda. Valeu a espera. Mineira radicada em Curitiba, Ana Cascardo é uma das cantoras de que mais gosto. Foi o Fabinho Hess que me deu o CD dela de presente, e quando ouvi já pela primeira vez botei na cabeça que seria com a Ana que eu iria procurar aprimorar minha voz. Ana Cascardo tem no currículo uma participação como semifinalista do cobiçado Prêmio Visa, em 2005, feito reservado a pouquíssimos talentos.


Ana Cascardo canta "Com açucar, com afeto", de Chico Buarque

Além de ser uma apaixonada pelo estudo e ensino da técnica vocal, o fato da Ana Cascardo ser cantora profissional com experiência de palco e disco pode facilitar meu desenvolvimento. Além disso, o repertório dela tem muito a ver com o que gosto e persigo em música. Já tive uma base no estudo do canto. Em São Paulo, fiz alguns meses de canto lírico com uma professora que dava aulas em seu apartamento, na região central da cidade. Aquele apartamento, por si só, era um cenário. Como ela tinha sido cantora profissional de ópera (infelizmente, não lembro o nome dela), sua sala era repleta de objetos cênicos de diversos países, mas quem reinava mesmo era um piano enorme, que servia de apoio para as aulas. Já em Curitiba, fui aluno por quase um ano da Liane Guariente, vocalista do excelente grupo “Terra Sonora” e também ótima professora de canto.


A soprano argelina Amal Brahim Djelloul canta "Bachiana nº 5", de Heitor Villa-Lobos

Hoje, 16 de abril, é o “Dia Mundial da Voz”. Minha homenagem a todos aqueles que fazem da voz seu instrumento de trabalho e encantamento.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A voz disfarçada de gente

Ivo Rodrigues, vocalista da banda curitibana Blindagem

Na noite de ontem, o vocalista e compositor Ivo Rodrihues se foi. Partiu pra "Alhures do Sul", como diz o cartunista Solda. Sabe aquela frase "não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje"? Adiei por várias vezes minha ida ao bar Stuart, onde o vocalista da lendária banda de rock curitibana Blindagem passou a se apresentar sozinho todas as quintas-feiras, de uns tempos para cá. Algo tão simples, tão fácil de fazer, talvez por isso mesmo fui deixando para a próxima e acabei dançando, e dançando sem música. Tinha curiosidade por conhecer pessoalmente esse cara, mesmo eu não tendo familiaridade com o trabalho dele, já que não cresci em Curitiba e não costumo ouvir rock'n roll. Alguns amigos meus eram muito amigos do Ivo, e sempre falaram com carinho dessa figura. No ano passado, pude acompanhar as manifestações de alegria de vários desses amigos por ele ter conseguido, finalmente, fazer um transplante de fígado, depois de ter amargado três anos na fila de espera. A seguir, transcrevo boa parte do texto que foi publicado hoje no jornal A Gazeta do Povo. Mais abaixo, posto um vídeo da Blindagem com o Ivo Rodrigues mandando ver. A propósito, o que você queria fazer hoje mesmo?

Morre Ivo Rodrigues, vocalista da banda Blindagem

Ivo Rodrigues morreu aos 61 anos na noite de quinta-feira no Hospital de Clínicas de Curitiba, vítima de uma parada cardiorrespiratória decorrente de complicações em função de um câncer. Era casado e deixa dois filhos.
Ivo nasceu em Porto Alegre, mas com três anos de idade se mudou para Curitiba com a família. O músico assumiu o vocal da banda Blindagem em 1969, uma das mais tradicionais do Paraná. Além de se manter por três décadas nos microfones da banda, o vocalista também se notabilizou por manter sólida parceria com o poeta curitibano Paulo Leminski.

O contato com a música começou cedo, com a participação de programas de auditórios em rádios e em programas de calouros na televisão. Em 1966, foi eleito o melhor cantor do Sul do Brasil, conquistando o “Troféu Barra Limpa”, em um programa apresentado por Júlio Rosemberg na TV Paranaense. Com isso, ganhou como prêmio um programa de duas horas, o “Juventude Alegria”, que passou a ser transmitido na emissora nas tardes de sábado.

Na Blindagem, participou de momentos históricos para o rock paranaense. Com um som agressivo e performático, variando do lírico ao pesado, a banda participou de festivais memoráveis, como o de Águas Claras. Entre os momentos mais importantes do grupo, a banda foi a responsável pela montagem do legendário espetáculo Rocky Horror Show, em 1982.

O primeiro disco foi gravado em 1981, pela Continental, com o título “Blindagem”. No mesmo ano, a banda lançou dois compactos. Em 1983, vieram mais dois compactos, com as músicas “Malandrinha” e “Me provoque pra ver”. Outro single foi lançado em 1985, pela Polygram, com a música “Operário Padrão”. O outro LP, “Cara x Coroa”, foi lançado de maneira independente em 1987.

Os trabalhos da banda tiveram reedições e versões em CD. O novo disco foi lançado em 1997, com o título “Dias Incertos”. Em junho de 2008, a Blindagem lançou seu DVD “Rock em Concerto – Banda Blindagem e Orquestra Sinfônica do Paraná”, gravado ao vivo na primeira apresentação do Rock em Concerto, em setembro de 2007.


"Buraco no coração", de Ivo Rodrigues, P. Teixeira, O. Azevedo, C. Gaertner e Paulo Leminski

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Resultado da primeira edição do festival

Com uma semana de atraso, trago aqui o resultado da primeira edição do festival Samba do Compositor Paranaense, da qual participei. Eis as músicas melhores classificadas:

1º - Mar grande - Gustavo Proença
2º - Amor pagão - Karla Díbia
3º - Minha ancestralidade - Willian Nazário / Emerson Urso
4º - Como disse o Cony - Marcelo Amorim

O Gustavo Proença e a Karla Dibia defenderam muito bem suas respectivas criações, valorizando a qualidade das músicas, e por isso mereceram os primeiros lugares. Minha "Como disse o Cony" ficou em quarto lugar, perdendo a chance de figurar no CD oficial do projeto, a ser lançado provavelmente no final do ano. Mas ter participado dessa primeira edição foi bom e divertido. Os músicos do grupo formado para o evento, o Paranapoeta, sabem do riscado e são ótimas figuras. Com a ajuda deles acredito que consegui dar o meu recado, embora a falta de experiência tenha pesado em alguns detalhes da minha apresentação. Acredito que isso é normal, nesse estágio de aprendizado em que me encontro. 
 
Pelas notas do juri eu teria ficado em segundo lugar, mas como havia também nota da plateia, que acabou não recebendo bem o meu samba, minha média caiu. A razão da baixa nota que recebi de quem estava lá assistindo talvez tenha sido pela letra do samba não facilitar o "cantar junto", talvez. De qualquer maneira, foi uma experiência positiva. Quero ver se participo de mais uma edição, não sei se da próxima, que acontecerá ainda neste mês, mas penso em me inscrever mais uma vez para conhecer mais gente próxima que produz música brasileira. E de quebra, claro, tentar um lugar no CD. Sem dúvida, isso será muito bem-vindo.


O mestre Paulinho da Viola, em um delicioso pout-pourri

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ensaio do festival

Foto de Jandoo (Flickr)

Ontem participei do ensaio para a apresentação no festival Samba do Compositor Paranaense. Noite chuvosa em Curitiba, o que fez o percurso que seria de 15 minutos entre o centro e o lugar marcado levar pelo menos o dobro de tempo que levaria. Mesmo com a chuva chatinha lá fomos nós, seis dos sete participantes da primeira edição do festival. O sétimo é da distante cidade de Paranavaí, por isso não compareceu e terá seu samba defendido pela banda formada para o evento.

O astral estava ótimo. Um povo muito à vontade, a fim de tocar, de fazer samba e de se divertir. Quatro percursionistas, um cavaquinho, um violão e um clarinetista. Cada um de duas ou três passadas pela música, para se familiarizar bem com o arranjo e combinar alguns detalhes. Em geral, gostei de todos os sambas que concorrem com o meu "Como disse o Cony" ao direito de fazer parte do CD oficial do festival. A seguir, dou uma palavrinha sobre cada um deles.

"Amor pagão", de Karla Díbia
Trata-se de um “quase-samba”, se é que se pode chamar assim essa bonita canção, que em alguns trechos lembra uma "quase-valsa", se é que se pode chamar assim essa bonita canção que, no fundo, é isso, uma bonita canção de amor. Vai dar uma quebrada no clima, o que considero muito positivo. A letra é romântica e a melodia muito inspirada, o que favorece a voz da Karla Díbia, de timbre muito agradável. Se tivéssemos prêmio para melhor cantor, eu apostaria nela para esta primeira edição.

"O sapateiro deu o nó", de Reinaldo Godinho
Entre todos, o Reinaldo Godinho é o concorrente com mais bagagem. É músico, produtor e arranjador, e já tem vários discos gravados, o primeiro deles foi lançado em 1978. No festival ele vai defender um samba no melhor estilo Moreira da Silva, com muita malandragem e malícia na letra, além de um suingue muito característico dos sambas-de-breque. Fora isso, o Reinaldo canta muito bem, mostra que sabe das coisas.

"Ordem, progresso e amor", de Alysson Siqueira
Eis aqui um samba de muito boa melodia e temática romântica incomum. Uma coisa que chama a atenção de cara é que a história narrada no samba é situada em Curitiba, o que é sempre interessante, já que a cidade não costuma ser associada ao samba. Também gostei muito da voz do Alysson Siqueira, timbre grave e ao mesmo tempo suave.

"Mar grande", de Gustavo Proença
O Mar Grande da música é o que separa a Ilha de Itaparica do continente, na Baía de Todos os Santos, perto de Salvador. Pelo que entendi do papo rápido que tive com o Gustavo Proença, autor do samba, é a terra dos pais dele. Este samba tem uma pegada bem tradicional, típica daqueles lindos sambas que imortalizaram a Clara Nunes. Muito bom de ouvir, muito segura a interpretação do Gustavo, a mistura deve empolgar a plateia.

"Futebol no céu", Cristiano Marques
Esse samba é, na minha opinião, o mais original de todos. Tanto na estrutura melódica quanto na poética da letra. Isso e o timbre do Cristiano Marques, que defenderá o samba, me fizeram lembrar do José Miguel Wisnik. Gostei muito, não é um samba pra levantar poeira, mas musicalmente foi o que mais me chamou a atenção.

"Minha ancestralidade", Willian Nazário
Eis um típico "sambão". Me parece ser o concorrente mais forte para a primeira apresentação, considerando que teremos público, portanto, um clima propício para a empolgação. O nome do samba diz tudo, ele versa sobre raízes culturais, negritude na veia. Como o autor mora distante de Curitiba, quem vai defender o samba vai ser a banda do festival, que tem tudo pra mandar bem.

Agora é torcer para que no domingo a gente consiga apresentar bem nossas músicas e a plateia presente saia de lá satisfeita com o que viu e ouviu.


"Agoniza mas não morre", do mestre Nelson Sargento, com o próprio e a sempre bem-vinda Teresa Cristina.