“E como é que fica? / me diga como o meu caminho / pode cruzar o teu
se entrelaçar ao teu / e se perder no teu caminho / tuas curvas, teus sinais
me diga mais / onde é seu fim / vem, diz pra mim”
A tarde do sábado da semana seguinte estava só começando quando ele saltou do ônibus e foi até o primeiro orelhão que viu naquela rua desconhecida. Tinha apenas uma ficha e um papel com o telefone da casa dela, que sem acreditar atendeu e riu, e riu muito. Sem avisar, ele havia tomado os dois ônibus que levavam ao nome do bairro dela, a única coisa que ele sabia, e arriscado um ponto qualquer pra descer. Do outro lado da linha ela se esforçava para retomar o fôlego e tentar saber que diabo de rua era aquela de onde ele estava telefonando. Depois de se informar com o primeiro que viu ali por perto, ele pediu que ela fosse rápida, porque a ficha ia cair a qualquer momento. Se cair me liga a cobrar, quase gritou ela. Mas não foi preciso, ele estava a apenas duas quadras do riso incontrolável de sua amada.
A atriz Vera Zimmerman foi a musa inspiradora de Caetano Veloso na música "Vera gata", que ele canta neste vídeo de 1981, acompanhado pela Outra Banda da Terra.
A campainha mal soou e ela surgiu. Selaram o início do namoro com um longo abraço e beijo ali mesmo, no portão, para alegria dos pais dela, que sem que percebessem espiavam pela fresta da cortina da sala, e que viam naquele rapaz que fazia músicas a chance da filha voltar a ser leve como sempre fora. Um sacolejo mais forte do ônibus devolveu o rapaz que fazia músicas àquele final de domingo cinzento. Não havia mais ninguém na condução além dele, do motorista e do cobrador. Mais três paradas e o ônibus chegaria ao seu longínquo ponto final. Ele foi caminhando por calçadas praticamente desertas, como pareciam ficar todas as calçadas ao final dos domingos, naquela hora em que a maioria das pessoas começa a desalegrar o rosto. Ou vai ver que não, talvez ele não estivesse conseguindo enxergar os rostos que passavam por ele, que lavavam carros, que regavam jardins, que atendiam o entregador de pizza no portão, tamanha era a angústia que apertava mais e mais o peito, a cada passo que a casa dela dava na sua direção.
“E como é que fica? / me ensina como os meus cabelos
podem cobrir os teus / se embaraçar aos teus
se perfumar dos teus cabelos / dessas teias, espirais / me ensina mais
onde é a raiz / vai, então me diz”
(continua)
7 comentários:
Uma história leve e gostosa de ler, primo.
Que bom que a música do Inscrições te leva até lá :)
Beijo pra você.
Eu de novo.
Só uma curiosidade: em que post ficou teu comentário no Inscrições?
O blogspot não diz mais o nome da postagem.
Obrigada
bj
Oi, Dade, fiz dois comentários, nos seguintes posts: "boneca" e "passado com passas". Vou te avisar lá também, beijo.
Marcelo,
venho pouco aqui. azar meu.
é muito gostoso teu texto e edição de teus posts.
adoro te ver sempre lá no não lugar.
valeu!
Lina, percorro seu blog menos do que gostaria, mas sempre que posso é dos meus preferidos, acho tudo lá lindo. Você vir aqui me deixa feliz, ainda mais sabendo que gostou do que leu. Beijo
"Outras Palavras"...Boa lembrança e ótimo texto. Saudades
Borges/Francis, agradeço sua sempre bem-vinda visita. Espero que hoje eu consiga postar o final da história, um abraço!
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