sexta-feira, 26 de junho de 2009

A primeira apresentação (parte 2)

O francês Jordy foi o cantor mais jovem a ter um single em primeiro lugar de vendas. Alcançou esse feito em 1982, aos quatro anos de idade, com a música "Dur dur d'être bébé", que vendeu dois milhões de cópias na França e foi sucesso também na Europa, Brasil e Japão.

A experiência que eu mencionei na primeira parte desta história não vinha exatamente das cantorias em família no carro. Vinha de uma outra cena que acontecia com certa frequência. Antes, e para encerrar de vez essa coisa de “auto-confete”, além da facilidade que eu tinha para decorar letras de músicas, eu também sabia os nomes dos compositores das músicas que conhecia. Mais que isso, se a música estivesse incluída num LP que eu já tivesse ouvido, eu saberia dizer o lado e a faixa que ela estava no disco. Ah, também conhecia o nome de todos os artistas das novelas da época. Tanto que eu era sempre consultado pelos adultos que freqüentavam nossa casa, quando o papo era sobre aquele ator ou atriz que trabalhava-naquela-novela-que-passava-naquele-canal-naquele-horário. Ou seja, eu era praticamente um almanaque ambulante de quase tudo que rolava na TV, no rádio e na vitrola.

Nos anos 1960, Blota Jr. (na foto, à direita) e sua mulher, Sonia Ribeiro (na foto, a mulher), comandavam o programa “Esta Noite se Improvisa”, na TV Record. O apresentador dizia uma palavra e o concorrente que apertasse primeiro o botão à sua frente cantava uma música que contivesse a tal palavra. Caetano Veloso era imbatível, seguido de perto por Chico Buarque, que quando não se lembrava de nenhuma música compunha uma na hora, inventando até o nome do compositor.

Corta. Estamos agora na varanda da casa em que minha família morava. Manhã de domingo ou sábado, talvez de um feriado qualquer, manhã de um dia desses em que não há trabalho e por isso estes amigos dos meus pais vieram para almoçar. Antes, um aperitivo para os homens, que conversam animadamente ao redor da cerveja, e bate-bola no quintal entre os meninos. As mulheres na cozinha, que naquele tempo e naquela periferia de São Paulo não havia lugar para certas modernidades. De repente, ouço meu pai me chamando. Já imagino para o que é e vou ligeiro. “Filho, canta a terceira música do lado A do disco do Moacyr”. O braço da minha vitrola imaginária localiza a terceira faixa do novo LP do Moacyr Franco e desce suavemente. Começo a cantar. Vou até o fim sem errar uma frase, uma palavra. Termino, todos batem palmas e elogiam. Meu pai tem no rosto uma indisfarçável expressão de orgulho. Sorrio meio encabulado, ouço um novo pedido: “Agora, canta a primeira do lado B do disco que tem o Roberto dirigindo um helicóptero”. E lá vou eu: “Quando você se separou de mim...”.


Levanto a mão o mais tímido que posso, mas a professora percebe e pergunta sorrindo: o que você sabe fazer? Respondo baixinho: sei cantar. E ela: sabe cantar? Você é o? Marcelo? Então, Marcelo, depois que... como é mesmo seu nome, você mocinha aí do poema... Fernanda? Então, depois do Agnaldo... Agnaldo, né?...que vai fazer embaixadinha com a tampinha da garrafa, vem a Fernanda que vai recitar o poema. Aí, o Marcelo pode vir e cantar, vamos fazer assim?
A sorte estava lançada. Minha chance de me tornar um Jordy quase 20 anos antes do verdadeiro Jordy nascer tinha finalmente chegado. Pensando bem, quando ela viu minha mão levantada eu devia ter pedido pra ir no banheiro. Agora não dá mais, vou ter que cantar lá na frente de todo mundo. Mas que música? Tem que ser uma música de um cantor, Martinha e Wanderlea não. Nossa, o Agnaldo já terminou! Só isso de embaixadinha?? Então vou cantar só um pedacinho da música. Já sei, vou cantar uma bem pequena, canto rápido e pronto, ninguém vai reparar. Será que não peço pra ir no banheiro antes?
(continua num próximo post)

10 comentários:

Carlos Lopes disse...

Olá, Marcelo. A língua não PÁRA de nos surpreender, não é verdade? Eu acho que este novo acordo é um pouco disparatado. Mas talvez a minha opinião venha do FACTO (outra palavra que mudará de grafia...)de ser professor de Português.

Um abraço e volte sempre.

Vivica disse...

Tá, mas e aí? Fez xixi nas calças ou deu tempo de cantar a música?

Poxa, nem na época do Jordy eu era nascida...rs! Mas ele era uma graxinha, como diria a Hebe :P

Beijos!

Marcelo Amorim disse...

Aguarde o próximo capítulo, ô gaucha apressada. Aliás, o que era aquela camisa do Grêmio ontem, hein, foi a mais feia que já vi na vida, benzadeus!

ricardo silva disse...

Estou curioso também, não demore. Abraço.

Marcelo Amorim disse...

Ricardo, um cara tão talentoso nas lentes como você será sempre muito bem-vindo por aqui. Acho que amanhã publico a parte final dessa história.

Catelini Padilha disse...

Oi Marcelo... Vi rapidinho seu blog no dia em que seu pai nos indicou, mas agora li com calma suas histórias... Lindas! Adorei as narrativas, nos deixam com gostinho de quero mais. Adoro esta ideia de valorizar as lembranças de coisas boas, de gente da gente. A música tem esse poder: nos remete a coisas agradáveis, lembranças gostosas... Lindo projeto! Beijos a vc à Ari e à turminha toda! Vou continuar acompanhando.

Marcelo Amorim disse...

Catelini, melhor do que escrever isso é saber que os amigos estão curtindo e, mais ainda, participando da coisa. Seja muito bem-vinda a este espaço, e pode deixar que levo os beijos pra "turminha toda" e pra Ari ;-) Beijo procê

Camaleoa disse...

Caraca! Esse clip do Roberto é uma coisa genial. Não lembro quantos anos eu tinha, mas era criança e quando vi o filme fiquei anestesiada. Essas tomadas, as cores, as roupas, esse teclado na música, a maquiagem, é tudo tão sensual. Engraçado isso, era pequena e essa coisa mexeu comigo e mesmo depois de muito tempo, ainda provoca as mesmas sensações.
Valeu pela postagem do clip, Marcelo!

Marcelo Amorim disse...

Camaleoa, eu não me lembrava de ter visto algum dia esse clipe. Vi no blog do Solda, tempos atrás, e quando precisei de um Roberto aqui, ele caiu perfeito. É um clipe fantástico, sim, feito no alto do edifício Copan, numa São Paulo que não parece muito distante da que é hoje, pelo menos não vista assim de cima. E pensar que já trabalhei num prédio vizinho ao Copan, há 30 anos... céus...rs

Camaleoa disse...

Os filmes do Roberto passavam na sessão da tarde, lembra? Assim como toda a pornochanchada de madrugada... eita bons tempos... : )