terça-feira, 11 de agosto de 2009

Clara dá o primeiro samba

Clara Nunes em foto sem crédito

Era mineira, era linda e cantava divinamente. Clara Nunes nasceu no dia 12 de agosto de 1943. Portanto, se Deus não precisasse levá-la tão cedo pra enfeitar as rodas de samba por lá, faria hoje 66 anos de idade. Para quem não sabe, ela morreu em 1983, vítima de complicações de uma cirurgia que deveria ter sido simples. Em 1973 (parece que os anos 3 são recorrentes nessa história; eu que nasci em 1963, claro que não tenho nada com isso, mas vale a citação), gravou o LP Alvorecer, que tinha como uma das faixas a belíssima "Conto de areia". Esse samba estourou nas rádio de um jeito que não havia santo dia em que não se ouvisse a voz da Clara cantando "O mar serenou quando ela pisou na areia...". Era o primeiro grande sucesso nacional da cantora. Daí por diante, e durante muito tempo, não haveria uma festa ou reunião de amigos na mesa de um bar em que alguém não puxasse esse samba pra cantar. O disco vendeu 300 mil cópias, marca muito expressiva para a época. Aliás, Clara Nunes foi a primeira cantora brasileira a vender mais de 100 mil cópias de um disco. As portas estavam definitivamente abertas para a "Sabiá", e ela brilhou sempre intensamente.
Tenho pra mim que "Conto de areia" foi o primeiro samba que aprendi a ouvir e cantar. Lembro que ficava atento à condução da letra, percebia a narrativa como algo novo, diferente, era a primeira música que parecia querer contar uma história para mim. Acredito que isso acontecia porque foi naquele tempo que comecei a tentar entender os versos das músicas. Tentava, porque no caso desta levei um tempão pra descobrir que a frase "Era um peito só cheio de promessa..." era assim e não "Era um 'peixe' só cheio de promessa...", como eu entendia e cantava. A temática da canção me induziu ao erro, por anos. E quando chegava a hora do "Quem foi que mandou o seu amor se fazer de canoeiro...", parecia que começava uma outra música. Eu tinha a nítida sensação de que se tratava de dois lindos sambas emendados. Claro que isso era coisa da minha cabeça, mas vai que.



"Conto de areia"
Romildo S. Bastos e Toninho Nascimento

É água no mar, é maré cheia, ô
Mareia, ô, mareia

Contam que toda tristeza
Que tem na Bahia
Nasceu de uns olhos morenos
Molhados de mar.
Não sei se é conto de areia
Ou se é fantasia
Que a luz da candeia alumia
Pra gente contar

Um dia a morena enfeitada
De rosas e rendas
Abriu seu sorriso de moça
E pediu pra dançar
A noite emprestou as estrelas
Bordadas de prata
E as águas de Amaralina
Eram gotas de luar

Era um peito só
Cheio de promessa, era só
Era um peito só cheio de promessa

Quem foi que mandou
O seu amor
Se fazer de canoeiro
O vento que rola das palmas
Arrasta o veleiro
E leva pro meio das águas de Iemanjá
E o mestre valente vagueia
Olhando pra areia sem poder chegar

Adeus, amor
Adeus, meu amor
Não me espera
Porque eu já vou embora
Pro reino que esconde os tesouros
De minha senhora
Desfia colares de conchas
Pra vida passar
E deixa de olhar pros veleiros
Adeus, meu amor, eu não vou mais voltar

Foi beira-mar, foi beira-mar quem chamou
Foi beira-mar ê, foi beira-mar

7 comentários:

Anônimo disse...

Marcelo, passo a comentar suas postagens, depois que você entrou no "Memória Elis". Gostei, de cara, do blog. Esse é um grande momento de Clara (saudade). Parabéns pelos seus escritos, sua maturidade e bom gosto. Sempre lhe visitarei.

Marcelo Amorim disse...

Obrigado, amigo (ou será amiga?). Fico muito feliz que tenha visitado e curtido esse espaço. Participe sempre que quiser e puder, já vi que vc sabe das coisas. Um grande abraço

Francisnaldo Borges disse...

O comentário anônimo sobre Clara é meu. Mas não sei muito, aprendemos à cada momento. Obrigado também pelas boas palavras. Depois quero lhe enviar algumas poesias do meu livro "Imagens Eternas". Abraços.

Marcelo Amorim disse...

Mande, sim, Francisnaldo. Gosto de poesia e vai ser um prazer ler o que escreveu.

Francis disse...

Reunião de Lavadeiras

Quando águas se renovam
açudes reúnem lavadeiras.
Poços represados nas pedreiras
são tanques de águas claras.
Estamparia de panos ensaboados
são tapetes de flores rasteiras
e roupas estendidas, hasteadas
são bandeiras de muitas pátrias.

Marcelo Amorim disse...

Francis, bonito poema esse. Não só pelo texto em si,mas também pelo tema, as lavadeiras. Deu pra "enxergar" todos os versos, e acho que essa é uma das qualidades de um bom poema. Um abraço e parabéns pelo talento.

Francis disse...

Gosto de escrever, fui descascando palavras e debulhando letras. A todo momento vem idéia nova: con(verso), desconverso. Obrigado, abraços