sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Mais um festival - parte 3



Nos anos 1980, Nilson Chaves e Vital Lima faziam parte de um grupo de compositores que se dedicou a disputar festivais de música pelo interior do país. Eles e artistas como Celso Viáfora, a dupla Jean e Paulo Garfunkel, entre outros, inscreviam suas composições nos principais festivais que aconteciam nos diversos cantos do Brasil, onde chegavam sempre como favoritos. Aqui e ali iam ganhando prêmios. Por um bom tempo, alguns fizeram disso quase uma profissão. 

No sábado seguinte, marcado para a final, chegamos ansiosos ao Chafic. As apresentações aconteceriam na quadra de esportes, um espaço amplo e coberto que havia no colégio e que tinha um palco numa das extremidades, não sei dizer agora se esse palco era uma estrutura fixa ou montada apenas para o festival. Tínhamos uma torcida considerável. Fora os amigos e alguns parentes, havia muita gente na plateia que torcia pela nossa música, que àquela altura era considerada uma das favoritas aos prêmios em dinheiro que seriam dados aos três primeiros lugares. Tínhamos conquistado também a simpatia de vários dos nossos concorrentes, que diziam abertamente que gostariam de ver a “Encanto feminino” entre as primeiras colocadas.


Entre os festivais de música da época, o de Avaré, no estado de São Paulo, era um dos principais, tanto pelo nível dos concorrentes quanto pela premiação. Moacir Luz soube da qualidade do festival pelo seu amigo Lenine. inscreveu a música "Choro das ondas" e conquistou o quarto lugar. Mais animado ainda, no ano seguinte inscreveu "Alafim", parceria com Aldir Blanc, com a qual ganhou o festival. Como era de praxe, o ganhador participava do  júri no ano seguinte, juri que aliás era presidido pelo Zuza Homem de Mello. Quando Moa soube que o prêmio do ano seguinte seria um carro, ele abriu mão de ser jurado e concorreu de novo. Resultado, ganhou um carro zerinho, que vendeu na manhã seguinte numa concessionária da cidade (fonte: Blog do Moa).

A acolhida do público que lotava aquele espaço foi calorosa, do começo ao final da nossa apresentação. Primeiro o silêncio, todos queriam mesmo ouvir a música. Depois, aplausos e gritos entusiasmados irromperam assim que terminamos de cantar. Não resisti a olhar para o júri, um grupo de aproximadamente dez pessoas, entre professores de arte e música, além de um ou outro músico e de representantes de entidades como o Lions Club local. Por local entenda-se os bairros de Santana e Tucuruvi, então os mais populosos e dinâmicos da Zona Norte de São Paulo. Três jurados anotavam algo em cartões enquanto balançavam a cabeça positivamente.


A música "Encontro das águas", composição de Jota Maranhão e Jorge Vercillo, era uma das concorrentes na mesma edição do festival de Avaré em que Moacir Luz obteve o quarto lugar. Embora tenha perdido grande parte do seu brilho, esse festival continua a ser realizado todos os anos. Neste 2009, o evento chegou à sua 27a. edição. 

Outras músicas também tiveram acolhida calorosa. O nível daquele festival amador era realmente bom. Todos os participantes tinham, como eu, crescido ouvindo música brasileira de muita qualidade, desde aquela produzida para os festivais da Record até os clássicos da época da ditadura. O mercado fonográfico nacional ainda não tinha entrado na fase de lançar modismos musicais. A geração que gostava de música brasileira naquele início dos anos 80 ainda consumia em larga escala a obra dos grandes nomes da MPB, muitos dos quais se encontravam no auge de sua carreira, vendendo centenas de milhares de discos. Uma das músicas concorrentes era particularmente muito boa, uma marcha-rancho com ótima letra e melodia inspirada. Era interpretada por um grupo de bons músicos e pelo autor no vocal, que dava bem conta do recado. Fiquei atento a cada apresentação, e quando elas terminaram, avaliei que brigávamos com pelo menos cinco boas canções, sendo que a marcha-rancho me parecia ser a concorrente mais forte. Eu estava certo.


Neste vídeo, a música "Tempodestino", de Nilson Chaves e Vital Lima, cantada pelos dois com a participação de Leila Pinheiro

2 comentários:

Vivica disse...

Dessa vez vcs não passaram num bar e tomaram um rabo-de-galo pra acabar com o nervosismo né? hehehehehehee

Beijos

Marcelo Amorim disse...

Dessa vez, não, Vivi...rs... Estávamos irritantemente sóbrios :-) beijo!