Taiguara cantava cada música como se fosse a última de sua vida. Numa época em que havia canções de protesto de um lado e românticas do outro, arrisco dizer que Taiguara era o elo perdido. Sua poesia libertária e seu coração absolutamente transparente faziam uma espécie de ponte entre o ideal e a emoção. Em “Maria do Futuro”, uma das músicas mais bonitas entre tantas que conheço, ele canta sua “dor civil” ao mesmo tempo em que quer “ver o mar salgando teu seio doce”. Tudo com a mesma verdade e urgência. Não sei quando foi que tive o primeiro contato com a música de Taiguara. Ele começou sua carreira nos festivais, no final dos anos 1960, e fez muito sucesso a partir de meados da década seguinte, bem quando passei a ouvir outros sons, entender outras letras, conhecer outras cores. Taiguara enfrentou inúmeros problemas com a censura, exilou-se em vários países, flertou com o experimentalismo, dedicou-se à música latina, gravou temas ligados aos povos indígenas latino-americanos e ao florescente movimento operário brasileiro. Era uruguaio de nascimento e morreu em 1996. Acima de tudo, Taiguara era um imenso cantor e um inspiradíssimo compositor. Sem dúvida, uma das minhas principais referências na música.
Maria do Futuro (Taiguara)
Duna branca, lua imensa Maria deita Nua e branda como as nuvens Que a lua enleita
Duas tranças, uma flor E Maria enfeita Suas mansas curvas cheias Que a areia aceita
Era noite de verão Vi o amor nascer num sorriso seu O luar me convidou Mar nos temperou E ela me envolveu
Nessa rede ela aprendeu Minha dor civil, minha solidão Nessa rede eu vi nascer Minha liberdade
Tua rede, minha sede E o amor te trouxe Quero ver o mar salgando Teu seio doce
E em cadeias de amor puro Viver guardado Joga areias do futuro No meu passado
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