terça-feira, 14 de julho de 2009

Como se fosse a última

Taiguara cantava cada música como se fosse a última de sua vida. Numa época em que havia canções de protesto de um lado e românticas do outro, arrisco dizer que Taiguara era o elo perdido. Sua poesia libertária e seu coração absolutamente transparente faziam uma espécie de ponte entre o ideal e a emoção. Em “Maria do Futuro”, uma das músicas mais bonitas entre tantas que conheço, ele canta sua “dor civil” ao mesmo tempo em que quer “ver o mar salgando teu seio doce”. Tudo com a mesma verdade e urgência. Não sei quando foi que tive o primeiro contato com a música de Taiguara. Ele começou sua carreira nos festivais, no final dos anos 1960, e fez muito sucesso a partir de meados da década seguinte, bem quando passei a ouvir outros sons, entender outras letras, conhecer outras cores. Taiguara enfrentou inúmeros problemas com a censura, exilou-se em vários países, flertou com o experimentalismo, dedicou-se à música latina, gravou temas ligados aos povos indígenas latino-americanos e ao florescente movimento operário brasileiro. Era uruguaio de nascimento e morreu em 1996. Acima de tudo, Taiguara era um imenso cantor e um inspiradíssimo compositor. Sem dúvida, uma das minhas principais referências na música.

Maria do Futuro (Taiguara)

Duna branca, lua imensa
Maria deita
Nua e branda como as nuvens
Que a lua enleita

Duas tranças, uma flor
E Maria enfeita
Suas mansas curvas cheias
Que a areia aceita

Era noite de verão
Vi o amor nascer num sorriso seu
O luar me convidou
Mar nos temperou
E ela me envolveu

Nessa rede ela aprendeu
Minha dor civil, minha solidão
Nessa rede eu vi nascer
Minha liberdade

Tua rede, minha sede
E o amor te trouxe
Quero ver o mar salgando
Teu seio doce

E em cadeias de amor puro
Viver guardado
Joga areias do futuro
No meu passado


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